segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dona Maria já estava no seus 89 anos quando teve que ir pela primeira vez ao médico, nada de grave, ela escorregou na rampa de casa e formou um roxo do tamanho da cabeça de Lolita, a cachorra. A filha insistiu durante todo o jantar que o médico só ia receitar uma pomada, e que aquele machucado não sumiria de outra maneira. "Ora, pomada eu tenho meia dúzia na gaveta do banheiro, fico boa em dois dias, médico é perda de tempo". Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, e lá estava Dona Maria, com a sua saia de domingo, vestida com seu traje velório/almoço em restaurante chique e agora com mais uma função, ida forçada ao médico. "Credo mãe, que roupa é essa? Ninguém morreu não". Dona Maria só sorria, respeitava essa geração de medicina social, idas ao médico mais freqüentes que idas ao parque, ato semanal da infância de qualquer criança da época dela. Ela respeitava, mas isso não quer dizer que entendia. Como entender uma pessoa que não sabe pegar ônibus? Que não conhece nem duas ruas abaixo da sua? Que considera shopping como passeio? Dona Maria mal sabia pronunciar shopping, e Deus me livre ter que passar mais de duas horas naquele lugar do capeta. Pra que tanto ar condicionado? Credo. Bom mesmo era sentar na calçada depois do almoço e tomar aquele sol delicioso que dá sono, preparar o café da tarde, visitar os netos, ouvir a radio Cultura e o jornal das 6.

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