quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Lembro-me daquele dia como aquelas manhãs de domingo em que chove, e chove, e chove. Como naqueles dias em que há neblina e aquela sensação de sufocamento por não ser possível enxergar a luz do sol. Aquele dia caracterizou-se dessa forma pelos curtos cinquenta segundos que durou, momento este em que o coração passou aquela velocidade comum quando se leva um susto ou quando alguem morre. Foi um dia triste, sem mas nem poréns. Foi um dia triste que remeche-se de vez em quando na minha cabeça, e o coração sente. Essa ferida aberta que ora parece estar cicatrizando e ora escancara-se, deixando o sangue morno rolar pele abaixo.
Não sou boa com datas, não recordo na memória os dias da semana que marcaram a minha vida. Era a tarde, o sol não se pusera atrás das casas de cores claras e luxuosas, repletas de pessoas desconhecidas. Os preparativos (atrasados) para o Natal estavam a todo vapor. Decidimos montar a árvore, com direito aquelas luzinhas brancas que me traziam aquela antiga sensação de dias quentes e felizes. Era Natal, era a alegria remodelada em forma de comida, família, calor e amor. 
Subindo as escadas, entrei no meu quarto. Mal sabia que dali alguns instantes o mundo viraria do avesso e de ponta cabeça. Entrei na Internet, esta que me mantém presa e triste, na maior parte do tempo e a odeio por isso. Fiquei sabendo, então, da notícia de que aquele sonho antigo e ingenuo, formado nos primórdios do ensino médio, foi roubado de mim e dado a alguém melhor. A princípio, nada daquilo parecia verdade, eu estava sonhando e acordaria aliviada, agarrando aquela crença boba de que mereço meus sonhos realizados.
Mãe, venha pra casa. Deitei na cama, olhei pela janela. Seria verdade? Lutei tanto. Estudei, dei duro naquilo. Mesmo assim, não foi suficiente? Não sou tão boa quanto pensei que fosse, e esse foi um dos piores erros que eu já havia cometido. Vida, esse foi o seu sinal. A dor de ver um sonho desmoronando e levando junto todas as suas perspectivas de vida e de si próprio, é aterrorizante. 
Chorei, chorei, chorei. Meus olhos tomaram o formato de uma lua triste e perdida, como se ela não soubesse se sua função seria ser dia ou ser noite. Estava perdida, queria a minha mãe pra me consolar e dizer palavras que eu sabia que não merecia.
Tudo tornou-se um grande borrão. As luzinhas na árvore apagaram-se na minha visão cansada e inchada pelo choro compulsivo, nervoso, perdido. Estava desamparada.
Dormi com a cabeça latejando e com o coração partido. Meus olhos bateram no título do livro amarelo e laranja de quinhentas páginas do DeRose. "Quando é preciso ser forte". Fiz disso o meu mantra para encarar tropeços na vida como esse. Seja forte, filha.

So why is my heart broke?

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Por favor, volte

Estava aqui agora mesmo. Juro que estava. Olhei pra janela por alguns curtos segundos, sei que foi rápido, uma olhadela e ela já havia sumido. Como é que pode, tão de repente? Mal tive a honra de aproveitar sua agradável presença.
Será que disse alguma coisa? Minha roupa está vulgar demais? Posso ter a assustado com meus discursos perdidos que nunca chegam a uma conclusão... É, só pode ter sido isso. Posso ainda a ter assustado com meu olhar hostil. Sim, sim, já me haviam dito que meus olhos passam essa sensação.
Melhor chama-la de volta, desculpar-me-ei cordialmente, com certeza não foi intensão a ter magoado. Muito pelo contrário, apreciei sua companhia até o último momento em que nossos olhos descruzaram-se, e os meus foram parar na janela encortinada do quarto. Mas que falta de educação! Deixar a convidada desamparada sem ter o que dizer... sou a anfitriã, o rumo da conversa sou eu que domino. A coitada deve ter se sentido desnorteada pela minha falta de atenção, deve ter pensado que a conversa não tomaria mais nenhum rumo, e que a minha pobre pessoa já perdera o entusiasmo no assunto. Nossa, que vergonha.
Chame-a aqui, por favor. Passaram-se dias e eu sinto falta da minha companheira. Não queria ter que implorar, manteria minha formalidade até o ultimo instante, mas é que eu simplesmente não consigo ver graça em uma vida sem a presença dela. Tudo torna-se tão cinza, tão nublado, parece a capital de onde eu vim. Lá as pessoas não tiveram a honra de ter a minha amada convidada em suas casas, elas não conhecem o quanto maravilhoso é sua presença. Não estou exagerando, apesar de parecer. Aqui coloco os mais puros dos meus sentimentos, nada disso é dissimulado. Pode até ser, e eu não perceba... Mas não quero mudar o rumo da história. Estou a beira de ajoelhar-me e pedir em prece a sua volta. Beijo-lhe os pés, mas volte. Colore a minha vida com seu brilho impagável. Renasça em mim aquela antiga pessoa que eu tanto orgulhara-me de ser... Esteja comigo, de corpo e alma, nessa busca pelo ideal. Por favor, volte, luz da minha alma, combustível aos meus ideais... Volte, felicidade.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Desde criança eu enxerguei a vida como um ciclo simples de três fases. Teria que vencer a infância, venceria os preconceitos de não ter o corpo das meninas da minha idade, iria pra escola e passaria de ano. Essa seria minha realidade até o último ano do colégio, rasa e nua feito azulejo branco. Seguindo com a aventura, sairia do colégio com a mente aberta rumo a faculdade, que finalmente preencheria esse vazio dentro do meu coração por algo substancial, tornando minha existência algo memorável. Quero fazer essa diferença que tanto falam.
Perdi minha vó com 14 anos, ela era a melhor pessoa da minha vida. Sinto falta dos bolos, de segurar a mão dela no banco. Minha vó me fez enxergar a vida como uma aventura que só garante felicidade para os que a não procura.
Vó, me desculpe. Eu procurei a felicidade nos quatro cantos do meu quarto, nas redes sociais da internet, no yôga, no fingimento corrosivo de um sorriso. Procurei-a nas pessoas, no ar dos parques, no sol que bate na pele. Procurei nos livros, nos filmes. Vó, me desculpe, você sempre esteve certa.
Eu gosto de sentir-me diferente. Gosto de imaginar-me como outra pessoa, de basear-me nas vidas alheias para construir a minha da melhor forma. Procurei os meus gostos e os vivo todos os dias, mas não na intensidade que considero ideal.
Queria pegar um carro velho e sair pela estrada rumo ao desconhecido. Queria sair da minha vida, ser dez pessoas diferentes no mesmo dia. Queria abrir a janela do carro e colocar a cabeça pra fora, sentindo o vendo forte da serra machucando minha pele. Queria viver na clandestinidade, fazendo o que eu amo com alguém especial. Queria uma vida louca, insana, aquela vida que a minha vó provavelmente reprovaria.
Nunca fui uma menina normal. Agora, mas do que nunca, contrario o que os meus pais dizem só pelo gosto de os fazer pensar diferente da maioria. As algemas que eles levam nas mãos eu joguei no quintal do vizinho, elas não servem pra mim.
Quero andar sem roupa pela casa cantando Lana del Rey nos tons desafinados que caracterizam a minha voz. Não vou pra academia, não vou pra aula de inglês ou pro cursinho. Vou na direção do que faz sentido nos meus ideais, e mostrarei-os ao mundo pelo caminho que me dá prazer, mesmo não sendo um Fernando Pessoa, ou um Carlos Drummond.
Ando pela calçada para não ser atropelada e ter meus sonhos tirados de mim. Eles são a minha alma, minha carne, minha personalidade. Não tenho sonhos enormes, são do tamanho perfeito pro meu coração. Alcançarei o que estiver alcançável, simples assim.
Liberdade.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Metas para a vida: ser igual a Lana del Rey, fazer yôga na praia, viver um romance desenfreado com um cara parecido com o Jim Sturgess, viajar o país de cabo a rabo e escrever sobre liberdade.