domingo, 22 de setembro de 2013

Eu me lembro

Deviam ter avisado que o último ano do colégio seria difícil. Isso devia ter vindo no calendário escolar, as possíveis datas quando o aperto no coração aconteceria. A questão é que tem muita coisa pra sentir saudade, tempo de sobra pra fazer acontecer e depois ficar relembrando na cabeça e salvando na memória todos os momentos indescritíveis de felicidade eufórica.
 Eu me lembro quando dancei no palco das maiores baladas da America Latina, lembro quando bebi com as minhas amigas e quando escorreguei no chão, levantando tremula nos saltos altos e rindo da minha própria situação de vergonha. Lembro quando conheci um menino incrível e o quanto foi mágico esse momento. Lembro do calor da praia, do mar salgado na minha pele. Lembro dos shots de tequila, de dançar na beira da piscina, de presenciar o pôr do sol. Lembro de cantar errado, de pular na cama do hotel, de comer pouco na janta pra me acabar nos doces. Lembro de como me senti quando ouvi fofocas sobre mim, de me arrepender por ter extrapolado. Lembro também de ter aprendido a me perdoar, a olhar o passado como o que ele realmente é: passado. Passou.
Lembro das minhas viagens, de virar a noite, de me encantar com a lua cheia. Lembro do Natal em família, das sobremesas, dos doces portugueses. Lembro das histórias da minha vó, de contar a matéria da prova pra ela. Lembro das férias de Janeiro e Dezembro, da vitalidade que o calor trazia. Lembro das minhas amigas dormindo em casa, de rir até a barriga doer, de amar e de tudo parecer certo. Lembro das agoniantes noites em claro em que o choro prendia na garganta e quando eu tinha medo de tudo, medo da vida. Lembro de engolir os livros, da sensação de ter tomado um rumo.
 Lembro das madrugadas das férias na internet, de assistir séries e filmes, de ter medo do futuro. Lembro da sensação de liberdade quando peguei trólebus sozinha na volta pra casa, da inscrição pro vestibular. Lembro da sua mão arrumando meu cabelo rebelde, de você dizendo brincando que já havia me beijado, de assumir que precisava de uma namorada. Lembro de ter pensado "olha eu aqui, babaca, me candidato". Lembro de mascarar meus sentimentos. De fazer 15, 16 anos. Lembro quando eu tinha medo de perder as pessoas, de ficar sozinha. Lembro dos shows, do fluxo de emoções ao ouvir certas músicas, de chorar de saudade da minha vó. Lembro quando perdi meu cachorro. Lembro de me sentir no fundo do poço, de ser feia, gorda, mal amada, ofuscada pelo brilho dos que se encaixavam melhor nos meios. De me sentir um alienígena, deslocada. Também lembro de me sentir bonita, de gostar do meu cabelo e do meu estilo de vida.
Quero continuar lembrando, porém com a sensação de que há muito a me esperar pela frente. Há muitas baladas pra ir, muitas pessoas pra conhecer, muito a que estudar, fazer, falar e concretizar. Muito a viver. 

I wish I could be forever this young. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Como não querer o que seu coração mais pede? Como ignorar o desejo ardente de realizar um sonho? Como não sentir, como matar a facadas esse antigo sofrimento, não deixando nem as cinzas? Como esquecer alguém que te faz tão feliz? A gente não busca felicidade nessa curta vida terrena? Porque eu to tendo que abrir mão de parte dela? Eu não quero. Eu te quero, loucamente, ardentemente, conscientemente, perdidamente. Agora, aqui, minhas mãos descendo pela nuca junto as trocas de olhares que há pouco eram inocentes. Quero-te colado a mim.
E, se por alguma decisão de um destino amargurado, nada disso acontecer, te quero ainda mais na realidade. Teus olhos nos meus dizendo que não. Quero o tapa da rotina, a verdade nua e crua. Quero a palavra "amigos" soletrada ao vento, para entrar na cabeça, grudar nos neurônios. Quero, enfim, a felicidade em sua verdadeira forma, a que eu, e apenas eu, tenho condições de escrever.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Realidade ilusitória

É rir pra não chorar. Não é assim que dizem? Foi assim que me disseram. Você ri, enterra no depósito cardíaco o sofrimento e as desilusões, segue a vida. Engana-te. Da risada e finge, pretende, esquece, cai na folia. A gente vive assim, não é? Evitando os problemas, transformando-os em fantasmas parabólicos. Eles continuam ali, mas você os esquece, até quando der, até quando a vida permitir. Acho que vou chorar. Chorar pra esquecer, pra enfrentar a realidade, pra mudar o presente. Quem ri sem ter graça é ator, é quem encena. Eu vivo na vida real com o relógio me dando chicoteada nas costas. Não tenho tempo pra isso.

Sambando na cara do subconsciente

Alice gosta de Paulo. Alice não só gosta de Paulo, mas sente algo muito intenso e complicado. Alice e Paulo eram conhecidos de longa data. Um dia o destino quis dar uma remexida na vida de Alice e fez com que Paulo sentasse ao seu lado no colégio. Alice gosta de Paulo, Paulo não demonstra sentimentos. Alice quer que o colégio seja de segunda a segunda. Paulo falta nas aulas. Alice suspira, ouve músicas românticas e se corrói por dentro. Nunca teria o seu Jack, nunca seria Sally de ninguém.
Passaram-se anos. Alice gosta de Paulo. Paulo gosta de música, de filme, de dormir. Alice quebrou o coração. Milhões de vezes. Paulo admirava Ana, falava da Cláudia, pensava na Laura, gostava da Flávia. Paulo ia a festas, lia livros, ria, chorava, seguia linearmente na trilha da vida. Alice subia e descia na montanha russa descontrolada e não via a hora de descer.
Alice acordou num dia ímpar do mês e decidiu que nada daquilo valia a pena. O coração do ser humano não foi programado pra poluir-se de ódio, ciúmes, tristeza. Ele foi feito pra amar, amar certo. E foi assim que o laço que unia o passado ao presente foi cortado. Alice levantou da cama, corajosa. Aquele seria seu renascimento, a vida como deveria ser, viver por si só. Amar os outros, acima de tudo, e não sofrer por eles. O amor move o mundo, e não a lamentação por não ter Pedro. Pedro era legal, era bonito, simpático, inteligente. Mas cá entre nós, o João era muito mais interessante.