domingo, 13 de janeiro de 2013

Eu tenho que parar com essa vontade de tentar fazer com que as pessoas se tornem menos "erradas" pro meu ponto de vista. É difícil aceitar a individualidade das ideias de cada um, apesar de muitos parecerem que colocaram o cérebro no coador de café, ou que um bloqueio foi construído ao redor dos olhos, sendo apenas possível enxergar o que mais os agrada. Parece errado, mas eu não devo interferir. Eu fico abismada vendo o quanto algumas pessoas são diferentes de mim, que não conseguem enxergar as coisas que eu enxergo. Não quero me sentir superior, mas me sinto tão aliviada de não ser que nem elas... O que eu devo fazer? Continuar nessa vigilância, as vezes agindo como se eu fosse uma igual, deixando de falar muita coisa por medo de parecer chata? Intelectual exibida? Eu não sou chata, muito menos intelectual. Eu só tenho uma fascinação maior pelo jeito que eu vejo o mundo e o comportamento das pessoas, e me sinto enganando a mim mesma ouvindo a opinião dos outros e reagindo com um olhar de compreensão. Eu não compreendo. Eu quero falar o que eu sou, o que eu penso, mas ao mesmo tempo não quero incomodar. Será que eu incomodo?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

uma menina aí

Um solo de guitarra ecoava na televisão do andar de baixo enquanto a menina dos olhos perdidos encarava o teto em busca de respostas. Ela sabia o que fazer, já traçara a rota no mapa e já fizera planos na sua cabeça assim que teve oportunidade, ela tinha essa mania de preparação e arrumação da própria vida. Se sentia perdida com frequência, especialmente naqueles dias de mormaço, dias em que a casa era vazia e silenciosa, com as poucas pessoas que habitavam nela perambulando pelos quartos feito almas penadas, ou fazendo curtas viagens quarto-cozinha, cozinha-quarto. O futuro é incerto, pensava ela. Como vou saber se as minhas escolhas são as melhores? Tenho que me preparar, alguém me puxa dessa cama. E lá ia ela, a procura de livros e revistas. Pesquisar a acalmava, estar na corrida atrás do que era importante a deixava tranqüila e feliz. Pelo menos estou fazendo algo, murmurava pra si mesma enquanto abria o grande almanaque das profissões, que prometia lhe dar uma opção de uma vez por todas. Se ela ao menos conseguisse manter uma rotina, trabalhar duro todos os dias em busca do que queria, ela com certeza não estaria lamentando pelo 1 mês e meio perdidos, que deveriam ter sido usados de forma mais inteligente. Não vou dizer que esse período foi em vão, porque não foi. Ela havia ganhado alguma coisa. Ela havia amadurecido, e isso é uma coisa que não dá pra pesquisar antes e se preparar, simplesmente vem com o tempo e na hora certa, especialmente quando você menos acha que vai precisar. É, podemos dizer que a menina dos olhos perdidos usou esse período não da forma que queria, mas da forma que precisava.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

adoçando a vida com bolo e romances

-Fica mais um pouco...- Eu disse com a minha voz baixinha e manhosa já antes praticada. -Faltam ainda dois filmes do Harry Potter pra gente assistir, e você prometeu que ia comer um pedaço do meu bolo. - Além da vozinha, agora eu sorria ligeiramente e erguia as sobrancelhas, apenas para completar o pacote "convencendo o moço a não ir embora".
-Você sabe que eu gosto muito de Harry Potter, mas assistir todos os filmes na mesma tarde é pedir demais..- ele falava com os olhos perdidos no cabelo vermelho-alaranjado do Rony Weasley - Agora que eu reparei, o Rony tem tetinha.
-É verdade...são maiores que as minhas.
Ele olhou pra mim com cara de desconfiado.
-É, é verdade.- soltando um risinho tímido, passando os braços pelo meu ombro e me puxando prum abraço - Mas mesmo assim sou mais você. - colocou ambas as pernas na mesinha de centro da sala - Não gosto de ruivos.
A gente ta nisso há um mês. Mas antes disso, nós eramos amigos, claro. Ele é a pessoa mais sincera que eu conheço, pode ser burrice de acreditar, mas eu concordo com tudo o que ele diz. Talvez eu seja ingenua, mas talvez eu confie tanto nele que acabo aceitando as verdades mais cruéis e absurdas que possam existir, como o Rony Weasley ter mais peito do que eu.
Nós temos muito em comum, temos o mesmo gosto musical e isso já é meio caminho andado. Os caras mais legais gostam de rock, isso é uma verdade universal. Mentira, não é, mas podia muito bem ser. A gente conversa sobre a vida, sobre a natureza, sobre religião, sobre atitudes, sobre amor. Sabe quando dizem que a vida só faz sentido quando achamos a outra parte da nossa laranja? Bem, você já peguntou pra alguém qual que era o sonho dela, e ela disse "ser uma laranja inteira"? Eu nunca conheci alguém que quisesse ser uma laranja. Me contento em ter alguém que se encaixe nos meus valores.
-To com fome, amor.- ele tinha acabado de acordar de um cochilo no meu ombro - quero experimentar seu bolo.
-Só agora que você quer né, folgado. Vai lá buscar comigo, minha mãe não gosta que eu coma na sala.
-Ah que preguiça...ta bom, só porque eu amo bolo de chocolate.
Ele me pegou pela mão e me puxou rumo a pequena cozinha do meu apartamento menor ainda. Ele me sentou na bancada e foi rumo a geladeira.
-Tá aqui dentro né...ah, achei. Nossa, quem foi que comeu tudo isso? Você fez ontem! 
-Meu pai, ele come pra caramba.
-Por isso que eu gosto tanto dele.
Ele foi pegando os talheres e pratos como se fosse a cozinha da casa dele. Como já disse, nós eramos amigos antes disso, e ele vivia na minha casa, conversava com a minha mãe e assistia o jogo com o meu pai. Nós eramos namorados antes mesmo de sermos realmente namorados.
-Fazer bolo de chocolate é que nem viver, sabia? - eu disse a ele, já prevendo um olhar de interrogação estampado em seu rosto. Logo voltei a explicar. - Você precisa aprender com alguém primeiro, pra depois fazer sozinho. Ninguém nasce sabendo fazer bolo, não é verdade? É que nem a vida, uma hora ou outra a gente precisa de conselhos e ajudas externas pra aprender. Não é só com erros que se vive.
-Que metáfora inteligente, amor. Nunca pensei nisso. -ele ia cortando pedaços irregulares de bolo e servindo nos pratos. - Espero que alguém um dia me ensine a fazer bolo -e me deu o prato na mão e sentou ao meu lado na bancada. -Ta uma delícia isso aqui -disse com a boca transbordando de chocolate e os dentes totalmente sujos.
-Você não fica bonito falando com comida na boca, tá. Come primeiro e depois fala, pelo bem da humanidade.
-Ta bom -disse rindo.
Nosso namoro era discreto. A gente não ficava de nhenhenhe pra cá, nhenhenhe pra lá. Quem olhava dizia que não passava de amizade. Era quase isso, só que com benefícios a mais. Não era um amor intenso...não. Era duas pessoas que se conheciam muito bem. Era aconchegante, um alívio. Era confiança, papo furado, mãos dadas. Um beijo ou outro, uma mão aqui e outra acolá. Era inverno, era reconhecimento. Tardes nem um pouco solitárias assistindo televisão, bolo de chocolate, risos no canto da boca, olhares manhosos, seduções. Não era amor, era melhor.
Nesse meio tempo, nós já estávamos encostados na parede da cozinha conversando aos cochichos, os pratos esquecidos em cima da pia. 
-Eu preciso ir embora agora...-ele tentava ir embora enquanto eu beijava seu rosto e passava a mão nos seus cabelos.-talvez eu pudesse ficar mais...não, é aniversário do meu vô, preciso ir.-me beijava mais uma vez - É sério, olha pra mim. -segurou delicadamente o meu rosto, fazendo meus olhos encontrarem os dele -tenho que ir, te ligo mais tarde. Te amo menina.
Saiu calçando os tênis deixados perto da mesa do telefone e bateu a porta levemente. Fiquei ali parada revivendo na cabeça esse último momento, aceitando esse meu estado de paixão cega, surda e muda. Eu sabia da minha condição, sabia que mergulhara de cabeça nesse romance com o meu melhor amigo. Eu nunca quis estar dependendo tanto de alguém pra ser feliz, nunca quis estar perdidamente apaixonada. Agora eu só deixo na mão do destino decidir meu futuro incerto. Eu to nas nuvens, que pelo menos a queda não seja tão dolorosa (ou até que nem venha).

Tenho uma admiração muito grande por aqueles que utilizam a arte como forma de expressão. Já deixo claro que arte para mim não é apenas a pintura e os desenhos, e sim todas as formas que o ser humano é capaz de transmitir uma sensação ou ideia para as outras pessoas, seja em forma de dança, música, poesia, escrita e até mesmo a fala, a conversa. É tão bonito e inspirador essa habilidade de mostrar o seu pensamento, que a principio é algo preso e inacessível,  para aqueles que tem curiosidade de entender. É como contar uma história, daquelas que te cativam e te fascinam, e quando você menos da conta ela está  formada na sua cabeça em imagens e sons. É claro que essa habilidade nem todos possuem, apenas pessoas nascidas com esse traço de alma artística, não necessariamente um dom, mas sim uma curiosidade mais aguçada, uma vontade maior de entrar mais adentro nesse mundo e, quem sabe, ficar um tempo por lá.
Eu me considero uma pessoa mais para observadora do que para expressionista. Não fico na espreita vigiando o que os outros fazem, não, ainda bem. Eu apenas procuro entender mais sobre os assuntos e formo minhas ideias sobre ele, e ao invés de expressar essas ideias em forma de arte (que eu tanto admiro essa capacidade) na maioria das vezes eu simplesmente mantenho ela arquivada nos meus pensamentos, caso algum dia sinta vontade de usar. A minha vontade é contraria desta, por mim eu saia mundo a fora compartilhando minhas ideias com as pessoas e também ouvindo o que elas tem a dizer, trocando pensamentos e nunca, jamais, jogando conversa fora. As vezes é a falta de pessoas no mundo com vontade de ter papos cabeças, ou as vezes eu me expresso melhor na forma de outra arte: a escrita. De fato isso acontece, mas não vou dizer que isso acontece de maneira inspiradora que eu gostaria que fosse. Eu dou o meu melhor. Eu sei que não escrevo do jeito que gostaria que escrevesse, mas será que um dia vou atingir essa minha ambição? E se meu "dom" não for esse? Será que eu to certa em guardar minhas filosofias pra mim mesma?
Porque eu tenho que admirar tanto quem é artista e desejar ser uma, se eu nem sou boa do jeito que eu queria que fosse? É uma linha de perguntas que só levam a uma desilusão maior do que eu queria ser e não sou.
As vezes faltam palavras para descrever as minhas sensações, as vezes eu queria ser menos rala nas minhas frases. Esse texto ficou confuso e sem uma conclusão, assim como tudo na minha vida. Não vou arruma-lo, apesar de o mesmo merecer uma boa edição. Só pra deixar marcado essa minha linha de raciocínio que apesar de estar incompleta, já é um começo. Peço desculpas se deixei alguém confuso.