sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Monólogo

Nunca mais arrume os meus cabelos, peço que pare com essa tentativa de infiltrar-se nos meus olhos a procura de respostas, de brincar desumanamente com o que resta de sentimentos nesse corpo frágil. Deixe-me sozinha, quero enrolar-me nas cobertas e permanecer nessa inércia até que algo convidativo e colorido apareça e me chame pra dançar. Não tolerarei jogos psicológicos, e muito menos essa sua mania enlouquecedora de me ter em um sorriso, em um solo de guitarra, no olhar preso ao nada que me faz achar que estás a pensar em mim, que tudo que fazes tem o propósito de conquistar meu coração indesejável e tímido. Pare com essa mania. Pare, imperativo de alguém que não possui capacidade nem de controlar a si mesma, quanto mais os outros.
Uma vida, um ciclo, um período foi concluído. Com sucesso, sem sucesso, não sei dizer. Porém, todavia e contudo tenho alguns planos na cabeça que não vejo a hora de coloca-los em prática. A começar pela alma morena de olhos caídos e sorriso iluminador, que roubou-me a essência, destruiu meu caráter e me fez o que sou hoje, eternamente perdida no espaço, seguindo na direção de uma única luz que obviamente me guia até seus braços. Ah, pensei tanto nos seus braços. Imaginei a cena infinitas vezes e de trás pra frente, caso o ser que nos rege quisesse reverter a situação. Não perderia esse momento por nada, de estar em seus braços.
Aproximei-me criando coragem a cada centésimo de segundo que separavam nossos 4 metros de distância. Conseguia enxergar suas sardas ao redor do nariz, estávamos perto. O mundo paralisara-se ao meu redor, o ser regente havia escolhido a opção câmera lenta. Tudo o que havia treinado e repetido na cabeça durante aquelas tortuosas horas de noites em claro, esvaíram-se e voaram pela janela aberta atrás de nós. Qualquer frase dita por mim naquele instante eram frutos do meu subconsciente indesejado, o maldito. “Tchau, amigo.” E foi assim que despedi-me, sem beijo no rosto, sem apertos prolongados. Apenas aquele curto e gélido cumprimento sem afeto. Nossa, aquilo partiu meu coração em oito, nove, dez partes. Subiu-me o sangue nas têmporas, queria arranca-las e joga-las contra seu peito.
Situações assim tem de acontecer. Como seria capaz de crescer, de te deixar, finalmente, descansar em paz? Em quantas partes teria de quebrar meu músculo miocárdico para que conseguisse interromper com essa dor insuportável que é o amor não correspondido?
Eu o vi hoje de novo. Você usava aquele tênis que eu gosto tanto, e um violão pendurado nas costas. Mesmo que de forma inconsciente, meus pontos fracos estavam totalmente vulneráveis a sua presença e sim, ainda tive aquele gostinho muito bem conhecido de atropelar quaisquer vontades, esperanças e o próprio amor com um trator. Obrigada pelo trator, agora sei passa da hora de plantar novas sementes, de renascer.

Sonhos eu tenho transbordando pelo coração e pela cabeça, muito obrigada. Falta-me coragem de coloca-los em prática. Falta impulso próprio, falta tira-lo da minha vida, pois tudo isso só será possível sem que a minha mente cansada seja ofuscada pelo brilho indesejado dos demais. Deixe-me crescer sozinha.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Estive tão dependente da sua presença (e, ás vezes, era o que me bastava), que sentia-me vivendo a sua vida, e não a minha. Eu olhava minha aparência no espelho e não conseguia enxergar nada além do que uma pessoa desajustada, tentando achar brechas onde poderia executar mudanças, moldando-me nos padrões que talvez te agradasse. Seguia meus caminhos rotineiros ansiosa em te encontrar, em te ver e, por sorte, conversar. E só. Eu não precisava te tocar, te ter só pra mim. A sua presença naquele mesmo ambiente já garantia um dia feliz. Meu amor era visual, talvez uma das formas mais raras de amar alguém. Eu te tinha naquele espaço compartilhado publicamente, te abraçava nas risadas em conjunto, te beijava nas trocas de olhares não intencionados. Tentava entender seu universo, entrar na sua cabeça, te virar do avesso. E você nem desconfiava. Conectei-me a sua vida de forma tão intensa que isso massacrava-me por dentro. Todo esse processo de viver na sua sombra, de pressentir suas decisões e estar sempre a par de tudo, estar sempre presente, chutava pra penumbra preciosos momentos em que eu poderia estar trabalhando em ser... Eu. Poderia ter gasto meu tempo aprimorando, entendendo meu próprio e complexo mundo, e não atrofiando-o pra viver no seu,
Sinto muito pelo tempo perdido. Sei que foi perdido, sei que não valeu a pena. Mas cá estou eu, firme, forte, evoluindo a passos de formiga. Mas a certeza de ter me tornando um ser independente já é de grande satisfação, mesmo que isso ainda arranque pedacinhos do meu coração. Espero que esteja feliz. Espero que estejamos felizes.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Meus ouvidos presenciaram as mais rudes palavras
Que jamais, nem em mente, as proferi
Incapacidade de enxergar a vida como ela é
Ou foi tudo parte de uma personalidade forte
Que se auto-afirma?
Não
Forte eu aprendo a ser
Como uma eterna estudiosa dos próprios atos
Forte é quem eu quero ser
Daqui uns anos
Daqui, no máximo, 5 dias
Preciso ser forte
Preciso ignorar o mundo, fechar-me nessa
Bolha de sufocos
Falta pouco
Seja forte.

domingo, 17 de novembro de 2013

Declarações do miocárdio

Eu vejo a humanidade caminhando a passos de formiga na direção errada. Não procuro filiar-me a qualquer instituição que exponha teorias sobre o que é a vida, procuro aqui e agora apenas compartilhar um sentimento que tem arrancado pedaços do meu coração e anda impedindo meu sono. Preocupo-me tanto com o futuro e a vida dos que estão por vir que chego a esse ponto de lástima e corrosão interior. Não nasci pra viver no meu próprio umbigo.
A verdade é que o fato de já terem existido acontecimentos como nazi-fascismo, primeira e segunda guerras mundiais, escravidão, mortes na fogueira em nome de Deus, guilhotina, tortura, grupos de extermínio, o desmatamento de 98% da Mata Atlântica (não consigo pensar em pior chacina), criação de bombas atômicas visando o imperialismo e afirmação de poder... Deixam-me extremamente preocupada e, de certa forma, angustiada. Todos esse fatos podem ser resumidos em uma única palavra, que venho utilizando muito: desumanidade. Des, prefixo de negação. Humanidade, agir em prol dos demais. Recuso-me em acreditar que tais ações citadas sejam da natureza humana... A natureza é perfeita. Somos seres que supostamente pertencem ao auge da evolução, mas pelo o que conheço de história, desde os primórdios, desde quando se tem documentos falando de determinada época, essa tal desumanidade esteve presente. Deve-se levar em conta a cultura de cada povo, os costumes, os valores. Esses itens passam por constantes mudanças, e são de muita importância para explicar certos atos. O que me preocupa é a probabilidade que as ações humanas comprometam a vida futura, se esse lugar que deixarei daqui muitos anos (assim espero, pois ainda tenho muito a dizer e fazer), ainda terá pessoas que pensem e olhem além da linha de conforto. Tenho medo da globalização.
O mundo que vivo e presencio hoje está longe do que meus olhos inocentes consideram como ideal. Vejo pessoas passando por cima de outras, buscando afirmação de superioridade. Vejo indiferença com relação a vida alheia. Vejo a busca incessável por esse símbolo de papel que não acrescenta em nada no conteúdo ético de cada um, muito pelo contrário. Ele te corrompe, te faz viver uma vida sem sentido, te faz acordar todos os dias com a cara fechada e um coração poluído de rancor. Odeio saber disso. Vejo os valores invertidos, vejo o conceito de amor caindo no esquecimento.
Não quero parecer hippie, não trago essas palavras de nenhuma igreja, não tenho nenhum outro interesse a não ser passar esse meu descontentamento com a realidade. Prefiro acreditar que aquele político que roubou dinheiro público pra passar as férias no Caribe fez isso pois ele não foi capaz de amar, de perceber suas responsabilidades. Ele não foi amado, ele não sabe o que é contentar-se com qualquer outra coisa que não seja os itens materiais. Ele deixou-se corromper pelo mundo.
Espero contribuir com a ética. Espero, ao longo da minha vida, fazer com que cada vez mais as pessoas enxerguem o caos que assola as relações entre os países, entre os vizinhos, entre desconhecidos, amigos, familiares, a natureza. A mudança dever vir de cada um, mas para isso é necessário um incentivo, um exemplo de fora. Estou disposta a qualquer coisa que impeça o retrocesso. Estamos aqui para evoluir.
Guardo no peito uma enxurrada de sentimentos. Guardo no peito os sentimentos do mundo. Sufoco-me com os que trazem impurezas a alma, machuco-me sem ao menos possuir uma razão concreta.
Sou o cofre do rei, guardo os pensamentos e as emoções mais densas as sete chaves, escancaradas garganta abaixo. Não vejo a hora de descobrirem esse tesouro perdido e mostrarem ao mundo o quanto suas jóias brilham. Quero ser reconhecida. Até lá, vou juntando as peças desse quebra cabeça horripilante enquanto esquartejo a felicidade que tanto procuro.
Quero uma vida sem medos. Meu coração anda mais pesado que chumbo, tenho vontade de arremessa-lo no horizonte e virar as costas, andando no sentido contrário, deixando o vento bater com força nas minhas costas, encorajando-me a seguir em frente. Não quero mais sentir, pelo menos não desse jeito.
Quero chorar e afogar-me na mentira que eu sou. Não sou nada, não posso ser nada, nunca serei nada além disso. Não enquanto viver nessa camisa de força do meu próprio consciente. Não enquanto sentir medo.
Quero mesmo libertar-me de mim mesma.

sábado, 16 de novembro de 2013

Preces

Tem tanta coisa nesse mundo que poderia, de alguma forma, encaixar-se nesse meu coração incompleto. Estou farta de procurar alucinadamente no calar da noite, no barulho das teclas do computador (máquina perversa, fonte de dores e contentamentos momentâneos), no céu límpido, no calor da primavera. Nenhuma dessas maravilhas mundanas trouxeram o espasmo de que eu tanto falo, tanto busco. O cotidiano tem-se feito no progressivo aumento das olheiras e das incertezas de um futuro promissor. Lembro-me de que ano passado eu havia formulado um lema e pensara em pendura-lo na parede do meu quarto. "Não tenhas medo de viver a vida dos teus sonhos." Medo, eu sei que não tenho, mas e quanto as oportunidades, o destino, ou até mesmo aquela pitada de sorte que nunca me acompanha? Se sou escassa nesses elementos, que chance tenho eu de viver a vida que almejo? Eu só desejo, do fundo do meu coração, que Deus, Shiva, Jah, Budda, o destino, o cosmos, a sorte, a natureza e meu consciente estejam dispostos a trabalhar em sintonia para que o esforço não tenha sido em vão, que eu seja merecedora. Se não for, se realmente a vida está guardando algumas lições e sermões na manga, que seja. As lagrimas tendem a secar sozinhas.

domingo, 10 de novembro de 2013

Parágrafo da saudade

Sinto saudades suas, moço bonito. Lembro-me dos dias de calor e de vento batendo no rosto, de sentir a pele quente e convidativa. Sinto saudades do seu sorriso branco, sincero e legível. Perdia-me nas suas feições maravilhada com a existência, a vida tornara-se os sonhos que eu sonhei. Os sonhos que eu sonhei. Não precisávamos de nada além do charme daquela conversa casual e intima, éramos conhecidos de longa data apenas naquelas curtas três horas. As distrações estavam ali, o mundo corria ao nosso redor em ritmo desenfreado, nada mais me interessava a não ser aquelas palavras que você pronunciava tão poeticamente. Sinto saudades de tantas coisas mais que não pretendo gastar meu tempo falando sobre elas, tornaram-se imortais na minha memória, nos meus lábios, nas minhas vontades. Vontade de você, ou de alguém como você. Vê se aparece por aí qualquer dia, só pra eu poder parar de sonhar um pouco e voltar a enxergar a vida como uma felicidade realizável. Vê se aparece.