terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

desabafo número 3

A porta dos fundos bateu com força atrás de mim enquando descia a rua rumo ao lugar chamado Qualquer. Olhei rapidamente para trás, com o receio de que a minha mãe viesse atrás de mim reclamando novamente do barulho feito com a porta, falta entender que está fora do meu alcance controlar uma coisa chamada vento. Felizmente, ela deixara passar esse meu "ato de rebeldia", continuei andando. Era só mais um dia nublado, mais um dia com o sol marcado prás 6:30 da manhã, chuva torrencial no meio da tarde, trovoadas a noite. Era exatamente assim que as semanas tem se passado nos últimos meses, e eu simplesmente não via nada de errado com o tempo tristonho, ele me entendia de alguma maneira.
Enfiei minhas mãos branquelas e geladas no bolso do moletom, fazia frio. Queria passar despercebida pelos vizinhos e corretores de plantão, mas alguém passeando na garoa em plena quarta feira a tarde é algo que, de alguma forma, chama a atenção. Continuei no meu caminho, encarando os tênis all star destruídos pelo tempo. Me sentia uma idiota por ter medo de comprar tênis novos, aliás, tinha medo de compras, de gastar dinheiro a toa. Vai ver eu dou valor demais pras coisas que eu tenho, to errada? Os consumistas compulsivos, se vissem o estado de algumas roupas e tênis meus, provavelmente desistiriam da vida. Eu era assim mesmo, achava difícil largar o que um dia me fez tão feliz, mesmo se renovar fosse a melhor escolha.
Sentia meu corpo pesado, queria sentar. Escolhi a calçada aparentemente mais seca, próxima a uma árvore, recostei minhas costas e deixei cair a cabeça, cansada. Não fisicamente, entendam. Meu cansaço era outro. Era cansaço de um coração que aflingia uma dor, uma dúvida, um sentimento obscuro reprimido por puro medo. Era cansaço de ter muito a que organizar, a que decidir. Era cansaço de amores não esquecidos, de amigos que já não pareciam mais amigos, de ter apenas uma certeza na vida, e o resto parecer apenas resto.
Uma coisa que eu aprendi nas minhas abençoadas aulas de yôga, era sempre tentar ver o lado simples das situações, não importa qual. Acho que essa é uma lição que eu vou levar pra vida toda. Não tem porque sentir remorço, mas não há como negar que esse conhecimento cairia muito bem há algum tempo atrás. Enfim, deve ser por isso que eu tanto evitei encarar essa sensação que eu tenho tido. Prefiro entende-la como uma comprovação de que estou finalmente pondo princípios na minha vida.
Meus olhos se perderam na parede do sobrado da frente. As malditas vozes da minha cabeça deram novamente o ar da graça e me bombardeavam com tristes verdades que eu tentara evitar na última semana.
"Você ainda sente alguma coisa por ele." Eu sei.
"Vocês não são mais tão amigas." Eu sei.
"Você tem ciúmes dos dois." Eu sei.
"Você não faz tanta diferença." Eu sei.
"O futuro vai te esmagar se você não mostrar o seu melhor agora." Eu sei.
Infelizmente, verdades não vão deixar de ser verdades até que você as mude. Talvez eu não queira mudar todas. Talvez era pra ser assim mesmo. Dói agora, eu sei que dói. Mas não vai ser pra sempre, a dor nunca é.
Enquanto algumas coisas parecem ter saído do trilho, outras parecem ser potes de ouro no final do arco íris que eu acabei de encontrar. Eu acho que eu to sonhando. Se começar a chover, não me acorda.

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