domingo, 8 de dezembro de 2013

Desde criança eu enxerguei a vida como um ciclo simples de três fases. Teria que vencer a infância, venceria os preconceitos de não ter o corpo das meninas da minha idade, iria pra escola e passaria de ano. Essa seria minha realidade até o último ano do colégio, rasa e nua feito azulejo branco. Seguindo com a aventura, sairia do colégio com a mente aberta rumo a faculdade, que finalmente preencheria esse vazio dentro do meu coração por algo substancial, tornando minha existência algo memorável. Quero fazer essa diferença que tanto falam.
Perdi minha vó com 14 anos, ela era a melhor pessoa da minha vida. Sinto falta dos bolos, de segurar a mão dela no banco. Minha vó me fez enxergar a vida como uma aventura que só garante felicidade para os que a não procura.
Vó, me desculpe. Eu procurei a felicidade nos quatro cantos do meu quarto, nas redes sociais da internet, no yôga, no fingimento corrosivo de um sorriso. Procurei-a nas pessoas, no ar dos parques, no sol que bate na pele. Procurei nos livros, nos filmes. Vó, me desculpe, você sempre esteve certa.
Eu gosto de sentir-me diferente. Gosto de imaginar-me como outra pessoa, de basear-me nas vidas alheias para construir a minha da melhor forma. Procurei os meus gostos e os vivo todos os dias, mas não na intensidade que considero ideal.
Queria pegar um carro velho e sair pela estrada rumo ao desconhecido. Queria sair da minha vida, ser dez pessoas diferentes no mesmo dia. Queria abrir a janela do carro e colocar a cabeça pra fora, sentindo o vendo forte da serra machucando minha pele. Queria viver na clandestinidade, fazendo o que eu amo com alguém especial. Queria uma vida louca, insana, aquela vida que a minha vó provavelmente reprovaria.
Nunca fui uma menina normal. Agora, mas do que nunca, contrario o que os meus pais dizem só pelo gosto de os fazer pensar diferente da maioria. As algemas que eles levam nas mãos eu joguei no quintal do vizinho, elas não servem pra mim.
Quero andar sem roupa pela casa cantando Lana del Rey nos tons desafinados que caracterizam a minha voz. Não vou pra academia, não vou pra aula de inglês ou pro cursinho. Vou na direção do que faz sentido nos meus ideais, e mostrarei-os ao mundo pelo caminho que me dá prazer, mesmo não sendo um Fernando Pessoa, ou um Carlos Drummond.
Ando pela calçada para não ser atropelada e ter meus sonhos tirados de mim. Eles são a minha alma, minha carne, minha personalidade. Não tenho sonhos enormes, são do tamanho perfeito pro meu coração. Alcançarei o que estiver alcançável, simples assim.
Liberdade.

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